
-Você não está sozinha! -
Essas foram as palavras de Seu Sebastião, um homem com seus quase 70 anos, de cor bem escura, prestador de serviços gerais no local onde a menina estuda, ao deparar-se em mais uma noite onde ele teria de ficar com ela à espera do transporte escolar depois que todos os alunos iam embora para casa. Disse ela: -Estou tranqüila, Seu Sebastião!
A menina estava com os olhos cheios de lágrimas, pois o que a incomodava não era a demora do seu carro, mas sim a situação dolorosa onde meramente ela se esforçava para tentar disfarçar o ar melancólico para o porteiro fiel em suas esperas noturnas,cujo gesto tão singelo demonstrou intimidade e atenção ao perceber que a garota estava aflita, então ele repetia de tempo em tempo naquela noite: “Não estás sozinha, minha filha!”.
Mesmo em meio a tanta solidão, ela ainda se regozijava, sutilmente, ao olhar atento do porteiro e dos poucos colegas que penetravam em sua expressão naquela noite, a impressão que tinha era a de parecer abandonada.
“Estás com sono? Estás gripada? Estavas a chorar? Seus olhos parecem duas pedrinhas brilhantes em um rio!”. Diziam.
E era assim, entre um toque de lágrima e um coração aquecido que ela fitava de minuto em minuto o seu relógio meio quebrado, a espera de não sei o quê para um não sei onde.
Finalmente ela entra no carro e agradece ao querido porteiro que sempre a acompanha com tanta disposição.
No carro a temperatura estava bem baixa, o ar condicionado estava bem forte e o plano de fundo era uma música de meditação onde o motorista estava “super zen” por ter recebido mil reais por nada, só por ser locutor de uma rádio e amigo de alguém dono de uma loja que podia presenteá-lo. Então ela logo tratou de achar “relações políticas?!”, mas o que teria aquele rico comerciante e o motorista com relações políticas? Pensar nisso era legal,olhar o outro era como uma luz que surgia em meio às trevas de sua melancolia. O motorista super animado com os seus mil reais começou a falar de sua vida, de sua esposa e até de sua ex-noiva.
Por aí o assunto ia ficando mais interessante, talvez pelo fato da moça identificar-se com a história, ela sentia abrir o coração para mais um caso de amor fracassado que tanto tinha a ensinar.
E no final da conversa, a pergunta que não podia faltar:
-E sua ex-noiva, casou-se também?
Para o triste fim, a noiva não conseguira casar e ainda ficava de hospede durante as férias na casa da família do ex-noivo, que já estava casado e com filhos.Mas, a noivinha continuava abandonada no altar, sem filhos, sem igreja, sem religião, sem partido, só com o seu passadinho.
- Coitada dela - disse o motorista.
A passageira adiantou-se ao dizer: - Não é coitada, algumas pessoas casam e outras não, isso é normal -.-“É...”- Permaneceu o silêncio.
Ao chegar em casa, ela fala com o padre de sua paróquia que estava jantando com sua família, e corre para o seu quarto, põe uma baladinha de Chopin e começa a ler poemas.
Tão melosa, meu Deus, que não sabe o que fazer com tanta melancolia. E o pior, é que ela gosta de engrossar a voz de vez em quando, gosta de mostrar as veias do pescoço com tanta raiva.
Mas eis o que as emoções fazem com as pessoas... Hora libertam, hora escravizam. É mentiroso quem diz que só há uma forma de amar... Às vezes só amamos a nós, em outras amamos os outros e noutras vezes ninguém.
Ah, ia esquecendo de dizer que durante o percurso do dia alguns jovens marchavam pelas ruas da cidade pela legalização da maconha e pela liberdade de todos nós, mas a garota não se sentia representada, era uma ovelha desgarrada em busca de si mesma, ou ao menos de superar aquela dor que sempre lhe surpreendia.
Essas foram as palavras de Seu Sebastião, um homem com seus quase 70 anos, de cor bem escura, prestador de serviços gerais no local onde a menina estuda, ao deparar-se em mais uma noite onde ele teria de ficar com ela à espera do transporte escolar depois que todos os alunos iam embora para casa. Disse ela: -Estou tranqüila, Seu Sebastião!
A menina estava com os olhos cheios de lágrimas, pois o que a incomodava não era a demora do seu carro, mas sim a situação dolorosa onde meramente ela se esforçava para tentar disfarçar o ar melancólico para o porteiro fiel em suas esperas noturnas,cujo gesto tão singelo demonstrou intimidade e atenção ao perceber que a garota estava aflita, então ele repetia de tempo em tempo naquela noite: “Não estás sozinha, minha filha!”.
Mesmo em meio a tanta solidão, ela ainda se regozijava, sutilmente, ao olhar atento do porteiro e dos poucos colegas que penetravam em sua expressão naquela noite, a impressão que tinha era a de parecer abandonada.
“Estás com sono? Estás gripada? Estavas a chorar? Seus olhos parecem duas pedrinhas brilhantes em um rio!”. Diziam.
E era assim, entre um toque de lágrima e um coração aquecido que ela fitava de minuto em minuto o seu relógio meio quebrado, a espera de não sei o quê para um não sei onde.
Finalmente ela entra no carro e agradece ao querido porteiro que sempre a acompanha com tanta disposição.
No carro a temperatura estava bem baixa, o ar condicionado estava bem forte e o plano de fundo era uma música de meditação onde o motorista estava “super zen” por ter recebido mil reais por nada, só por ser locutor de uma rádio e amigo de alguém dono de uma loja que podia presenteá-lo. Então ela logo tratou de achar “relações políticas?!”, mas o que teria aquele rico comerciante e o motorista com relações políticas? Pensar nisso era legal,olhar o outro era como uma luz que surgia em meio às trevas de sua melancolia. O motorista super animado com os seus mil reais começou a falar de sua vida, de sua esposa e até de sua ex-noiva.
Por aí o assunto ia ficando mais interessante, talvez pelo fato da moça identificar-se com a história, ela sentia abrir o coração para mais um caso de amor fracassado que tanto tinha a ensinar.
E no final da conversa, a pergunta que não podia faltar:
-E sua ex-noiva, casou-se também?
Para o triste fim, a noiva não conseguira casar e ainda ficava de hospede durante as férias na casa da família do ex-noivo, que já estava casado e com filhos.Mas, a noivinha continuava abandonada no altar, sem filhos, sem igreja, sem religião, sem partido, só com o seu passadinho.
- Coitada dela - disse o motorista.
A passageira adiantou-se ao dizer: - Não é coitada, algumas pessoas casam e outras não, isso é normal -.-“É...”- Permaneceu o silêncio.
Ao chegar em casa, ela fala com o padre de sua paróquia que estava jantando com sua família, e corre para o seu quarto, põe uma baladinha de Chopin e começa a ler poemas.
Tão melosa, meu Deus, que não sabe o que fazer com tanta melancolia. E o pior, é que ela gosta de engrossar a voz de vez em quando, gosta de mostrar as veias do pescoço com tanta raiva.
Mas eis o que as emoções fazem com as pessoas... Hora libertam, hora escravizam. É mentiroso quem diz que só há uma forma de amar... Às vezes só amamos a nós, em outras amamos os outros e noutras vezes ninguém.
Ah, ia esquecendo de dizer que durante o percurso do dia alguns jovens marchavam pelas ruas da cidade pela legalização da maconha e pela liberdade de todos nós, mas a garota não se sentia representada, era uma ovelha desgarrada em busca de si mesma, ou ao menos de superar aquela dor que sempre lhe surpreendia.
Um comentário:
Um dia o Rio Grande do Norte teve uma donzela que quando a caneta pousava sobre o papel esbanjava tão belos textos, românticos e simbolistas na dose boa. O misticismo perfeito atingido por um enigma passional, materializações de abstrusos romanescos... Auta de Souza, na pauta de Sarah pousa e se faz prosa...
Se Auta foi “a maior poeta mística do Brasil”, como dizia Cascudo, Sarah é a Auta da prosa.
Como você bem escreve, minha amiga. Quanto me alegra e me orgulha, mais ainda me comove sua profundidade. Você é a maior prosista mística de que tenho notícias.
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