segunda-feira, 20 de outubro de 2025

Sem começo e sem fim

(...)
Vivia em terras distantes
longe do mar e das ruas calçadas;
onde banhar-se em água fresca consistia em fechar os olhos. O abismo apoderava-se de sua cegueira tornando seus passos mais vagorosos do que de costume, transformando a sua pressa em uma velha lembrança que usara como tentativa de compor breves alegrias.
Esperava lentamente um novo propósito de chão para alargar a passada, como não era de costume, acalmou-se por alguns instantes ao contemplar a visualização que lhe era sugerida, percebeu sua imensidão em meio ao nada, seguiu contendo o nada nas mãos.
A cada movimento de pés recebia notícias de pedras, plantas e homens.
Do seu cansaço restou apenas a vontade de adorar, seu coração apossou-se. Então o passado, presente e o futuro eram um só tempo.
(...)

Todas as coisas visíveis são apenas setas que apontam para o invisível - Lao Tsé.


Ama graciosa,
Clamo silenciosamente pelo vosso nome
E em cantos de uma belíssima voz sinto a vossa presença;

Deposito minhas esperanças em ti com promessas longínquas, desafiando a eternidade
E assim ornamento o vosso poderio diante dos teus servos desdenhados;

Vós, como tal formosa adormecida ainda envolvida em sonhos, rumas por lugarejos altos e de solos imprecisos, pois nada a ti parece impossível;

Alcançar-vos-ei, pensei
Mas a fusão aquosa de odores não lhes serão necessárias
É pelo guia do precioso e eterno sangue e pela mãe que anima que vais abrandando aquilo que soa como aventuras desastrosas
E tu, senhora sem lágrimas e suores, em sua própria perfeição permaneces, enquanto nós mudamos os ares em busca daqulo que chamamos verdade;

Tantos comentários a seu respeito, tantos fins motivadores, e nenhum deles parecem dignar-vos, vós que nem choras e nem sorris, vives enclausurada na perfeita morada, toma-nos como desassossegados e revela-nos a nossa infidelidade daquilo que chamamos liberdade.